O tradutor cleptomaníaco

Não, isso não é uma notícia absurda, mas um livro de contos do húngaro Dezsö Kosztolányi (1885-1936) (editora 34, Trad. Ladislao Szabo), com esse conto delicioso que dá nome ao livro. Gosto quando nossa profissão é retratada em livros, ainda mais com ironia e comédia. A história é de um tradutor que, ao passar do idioma fonte para o idioma alvo, rouba objetos das personagens, paisagens e outras coisas. E esse conto também me fez pensar em como podemos nos sentir cleptomaníacos quando nos apropriamos de um texto numa língua que consideramos bela e rica e passamos para nosso idioma, que talvez não achemos tão belo assim. E aí está o erro: desmerecer o nosso idioma e não aprendê-lo com tal requinte a ponto de ter a tradução precisa para aquela expressão, termo técnico ou palavra, sem achar que alhos, bugalhos ou coisa que o valha servem para aquilo que pede algo completamente diverso. O saber do idioma para o qual se traduz deve ser  profundo e construído todos os dias, não apenas com erudição, mas também com abertura para saber as gírias, a língua popular, variantes diversas e o português corretíssimo. Dessa forma, não seremos ladrões da tradução, mas grandes contribuintes para a nossa própria cultura.

Ferramentas necessárias


Depois de uma semana sem conseguir passar por aqui, resolvi falar de ferramentas que os tradutores têm à disposição, mas muitas vezes não utilizam ou conhecem. Para muitos tradutores já há tempos no mercado choverei no molhado, mas para os iniciantes e não tradutores pode ser de valia:

- Você estou absurdamente um idioma, que ótimo. O tem na ponta da língua? Muito bom. Agora, você conhece bem o idioma para o qual você traduzirá? É muito comum, no caso de traduções de um idioma estrangeiro para o português, que a pessoa seja muito fera idioma, não caia em armadilhas e esteja sempre atenta a nuances da língua, mas tem um português médio ou ruinzinho. Daí não adianta, sofrem os revisores, sofre o cliente. É essencial que se saiba o idioma da língua fonte, mas imprescindível mesmo é saber muitíssimo bem o idioma da língua alvo, ou seja, aquela com a qual você redigirá o texto.

- Dicionários não são apenas bonitos nas estantes, ficam ótimos abertos e utilizados. Uma reclamação frequente dos habitués das listas e fóruns de tradutores é que ninguém mais se dá ao luxo de realizar uma bela pesquisa em seus livros e materiais e, até mesmo na internet, antes de distribuir uma lista de termos descontextualizada em fóruns de discussão da profissão e pedir auxílio. Não é à toa que muitos estão deixando essas listas, pois em vez de se discutir a importância da tradução ou termos realmente cabeludos, aproveita-se da boa vontade de muitos colegas para angariar termos e ganhar tempo. E isso é muito feio.

- A internet também é um belo meio de pesquisa, mas cuidado: há muita besteira e falta de noção em diversos sites que, se não bem analisados, parecem fornecer dados confiáveis (veja um exemplo que Danilo Nogueira postou em seu blogue aqui). Acredite em seu bom senso, procure saber quem escreveu aquilo e como chegou àquele resultado, veja se realmente aquilo se diz assim com pesquisas cruzadas, utilize a ferramenta de imagens no Google para ver se aquilo é aquilo mesmo e não outraquilo, esgote os meios de busca, utilize dicionários on-line (muitas vezes eles nos surpreendem) e veja o que encontra no Google Books, atualmente um bom meio de pesquisa de excertos de obras que, às vezes, podem ser úteis e boas de ser adquiridas.

- Desconfiômetro ligado o tempo todo: se a frase lhe pareceu fácil, que custa conferir, em vez de acreditar piamente nela? Se está estranha, deixe-a descansar um pouco, respire você também e vá em frente. Muitas vezes a solução para ela está no próprio texto ou em um cochilo no meio da tarde (quando há tempo) ou em algum lugar que você nem imagina. Não perca tempo com algo que não anda, como um carro: se não tem combustível, não adianta forçar a barra, o negócio é seguir em frente para buscar o necessário para ele se mover.

- Organize seu tempo e saiba qual sua produção em todos os aspectos: quantas palavras por hora, quantas palavras por dia, as dificuldades de cada tipo de texto e as paradas necessárias que você precisa fazer de tempos em tempos para respirar e distrair-se. Também seja organizado com seus arquivos e com seus glossários.

- Esteja em contato com outros profissionais competentes e responsáveis, forme mesmo seu time, sua tropa de tradutores, com os quais você poderá contar e que possam contar com você. Trocar ideias e, não apenas isso, experiências é muito válido. O tradutor não deve ser o ermitão dentro de sua caverna de livros e dicionários em uma torre de marfim babélica: precisa visitar o cliente, visitar outros tradutores, os escritórios e agências para os quais trabalha, enfim, mostrar a cara e dizer a que veio.

- Tenha ciência de suas limitações e aprenda a dizer NÃO. Essa é uma palavra preciosa, que deve ser usada com cautela, mas sem medo. Se não conhece da área, não se arrisque, indique alguém que saiba. Seu cliente vai amar você mais ainda depois disso. Se conhece da área, lute para cada vez mais se aperfeiçoar. Se o português ou o idioma para o qual traduz está meio capenga, recicle-se. Faça cursos, procure outros profissionais que possam orientar você em suas dúvidas e dificuldades. O trabalho de aperfeiçoamento do tradutor só acaba quando ele desiste da profissão ou morre. Do contrário, é aprendizado contínuo, dia após dia.

- Leia, desesperadamente leia. Não apenas seus assuntos prediletos, mas tudo que caia na sua mão e tenha alguma relevância. Bulas de remédio, rótulos de desodorante, caixas de cereais, compêndios de culinária, obras de eminências em áreas diversas, romances (dos bons e alguns ruins, para saber como não fazer), livros técnicos de tradução, matérias de jornal, blogues correlatos e tudo mais. Você nunca sabe quando vai precisar saber algo exdrúxulo em uma tradução.

- Participe de cursos. Hoje em dia há muitos cursos on-line, à distância. Às vezes você pode achar que o curso é inútil, mas uma frase bem colocada em muitos casos vale mais do que um curso de horas de duração.

- Atualize seu equipamento, teste e invista em programas de tradução, procure instruções e as melhores maneiras de ganhar tempo em seu trabalho. Otimize sua vida e pode começar pelo trabalho: o restante vai ficando cada vez mais fácil depois disso.

- Esteja aberto à enxurrada de informações que estão por aí, pois algo ali você pode aproveitar. Não se sobrecarregue, mas preste atenção a tendências em todos os sentidos: de economia à moda, artes e cultura popular, gírias e óperas, um dia você pode precisar de algo assim. Seja para um trabalho ou apenas para um bate papo, que é sempre gostoso.

Espero que algo aqui valha mesmo a pena para você e que algum dia você se lembre que ser tradutor é ser descobridor, curioso, teimoso e fuçador. O prazer da profissão é imenso.

O difício ofício


O valor da tradução nos dias de hoje é difícil de mensurar. Muitas pessoas me perguntam como cobro pela tradução, como faço para medir a tradução em termos de dificuldade e em tamanho mesmo e até eu mesmo me pergunto como se faz isso em determinados casos. Além disso, há também a questão da boa ou da má tradução. Não estou falando de certo ou errado, conceito maniqueísta que não funciona na ciência tradutória como muitos pensam (inclua-se nesses muitos grandes tradutores e estudiosos que ainda vivem na época do "eu estudei mais, minha tradução é correta e/ou única"), pois se pensarmos no que se baseia hoje grande parte dos estudos de tradução (corpus, equivalência, descontrução etc.), podemos ver que o relativismo tradutório é bem e bastante aplicado quando passamos a uma análise criteriosa da tradução de um termo ou de uma construção estrangeira.

Tão incerto como uma tradução correta é a figura do tradutor. Pois hoje em dia há escolas de tradução, mas que, como todas as outras escolas profissionalizantes, apenas concede/apresenta o ferramental que o aspirante a tradutor precisa ter para enfrentar o mundo. Tradutor de verdade ela será quando viver de tradução, ganhar seu pão lidando com as palavras de lá para cá e de cá para lá e conseguir se impor e ser respeitado por seus clientes, dando-lhes ciência do trabalho que dá cada frase que ele manda para traduzir para ontem de manhã.

Contudo, como queremos respeito, se muitos que se intitulam tradutores sujam nossa imagem perante editoras e agências, utilizando algum tipo de lobby ou Q.I. (quem indica) para conseguir uns trocados? Impossível impedir esse tipo de prática, pois muita gente que passa seis meses no exterior volta se achando "o" ou "a" tradutor(a) e, como a capacidade de avaliação dos clientes ainda é elementar, o parâmetro utilizado continua a ser o preço baixo ou a troca de favores.

Sem citar nomes por motivos óbvios, vou dar um pequeno exemplo que há pouco ocorreu com uma grande amiga. Preparadora de texto para editoras, essa amiga (a quem chamaremos de Mary) aceitou o trabalho de uma editora que já possui um nome no mercado para fazer a preparação de um livro sobre uma área das artes, traduzido. Mary adorou a idéia, pois ela é afeita à tal área e poderia muito bem usar seu conhecimento para "arredondar" o texto.

Ledo engano.

Quando iniciou o trabalho, Mary percebeu que havia algo de errado com a tradução. Que o texto, apesar de ter uma redação razoável, não possuía o mínimo de pesquisa nos termos e cuidado na construção de frases. Traduções de nomes de bairros e cidades, traduções realmente erradas (como, no caso de "dar a luz" [to delivery a baby], o tradutor usou "entregar" [to delivery a letter]), denotando a falta de cuidado e de compromisso com o próprio nome e com o nome de todos os outros tradutores. Porém, o caso desse tradutor é diferente: amigo pessoal do editor, seu nome é intocável pelos funcionários da editora. Ao reclamar sobre a qualidade da tradução, ouviu do outro lado da linha: "Não podemos fazer nada, o tradutor é amigo do editor e nosso orçamento já acabou. Vou ver o que consigo fazer". Minha amiga acabou tomando a atitude correta: desistiu de fazer o trabalho do tradutor para não se estressar, pois estava ganhando aquém do que deveria e ainda fazendo o trabalho do fulano que se dizia o profissional da tradução!

Negar que o trabalho do tradutor é árduo é impossível, como sabemos, pois a transposição de idéias contidas num texto, nuances e intenções de um idioma para o outro não se apresenta como a mais tranquila das tarefas. Contudo, como vimos aí e como há em tantas outras ocasiões, não se honra a beleza e as deliciosas intempéries da nossa profissão, em pequenos gestos que atrapalham em muito as lutas por reconhecimento e pela valorização desse belo ofício. Se é vã essa luta perante interesses diversos, não me é dado saber. Importa mesmo é que essa luta não pare no primeiro obstáculo.

Quando du know che necessita van en traducteur?

Então é isso mesmo, ninguém precisa de tradutor, não é? Somos uma raça em extinção, com o advento das traduções automáticas e afins?

Salvo algumas exceções... É MENTIRA! (E espero que continue assim.)

Modéstia a parte, nunca fomos tão necessários quanto o somos nos dias de hoje. E ainda assim continuamos relegados aos bastidores do mundo, profissionais sub-reconhecidos, sem qualquer apreço de quem usa nossos serviços diariamente. A maioria das notícias, dessas que se vê a todo o momento na Internet, foi recolhida de uma central gringa (como a Agência Reuters e afins) e traduzida às pressas pra sair imediatamente. Esse programa que você está usando nesse minuto pra ler esse post também passou por habilidosas (ou nem tanto) mãos tradutórias. Os produtos que cercam você nesse minuto, duvido algum que não tenha, direta ou indiretamente, precisado de tradução.

E por que nosso reconhecimento é mínimo? Nulo quase? Não entendo mesmo essa postura de todos em vista da tradução, ou do tradutor, uma indiferença tamanha que me deixa realmente inconformado. E em todos os níveis culturais isso ocorre e por isso venho aqui mostrar um caso bem básico. Uma jornalista uma vez me disse que muito melhorou o reconhecimento dos tradutores, ao menos nos veículos maiores e mais respeitáveis. Hein? Cuméquié? Vamos a um exemplo bastante "simples".

Assinava a revista Vida Simples, da Ed. Abril. Um encanto de revista, bem diagramada, bom papel, matérias interessantes para, como diz o slogan, "quem quer viver mais e melhor", com um site bastante interativo e elegante. Entre as matérias, existe uma seção sobre livros, CDs e outros. Eis que nos três livrinhos apresentados que com certeza precisaram de tradução para que ficassem acessíveis aos brasileiros NENHUM possuía a informação do tradutor, do(a) bendito(a) que ficou meses, com certeza muitas noites sem dormir, com dúvidas em um termo ou numa expressão muito específica, com dor nos braços, sonhando com o livro o perseguindo por vielas de letras, debruçado(a) em dicionários, babando em cima de teclados, mas mesmo com todas essas agruras, feliz e compenetrado no trabalho duro e importante de fazer a ponte necessária.

Óbvio que mandei um e-mail dizendo que a revista é ótima, cheia de elogios, mas com a interrogação clara: uma revista tão boa não poderia deixar de mencionar os tradutores das obras, nem de suas matérias (se houver alguma traduzida), por uma questão de respeito e reconhecimento. Eis a resposta:

"Infelizmente a revista segue um padrão, por isso, não é citado a tradução dos livros indicados na seção para ler. Mesmo assim, anotaremos o seu comentário como sugestão."

Que padrão é esse? Como uma revista que trata de assuntos de vanguarda, de meio-ambiente e bem estar, felicidade e cumprimento dos deveres pode ignorar a existência de profissionais vitais para que uma sociedade como a nossa, de informação pura, caminhe. Não quero confete, nem quero que haja estátuas de tradutores importantes espalhadas por aí, mas o mínimo de respeito pelo nosso trabalho. A começar pelos próprios tradutores, que muitas vezes subestimam seu próprio trabalho, que não valorizam seu próprio conhecimento. Claro, há suas exceções, há quem precise trabalhar mesmo e ganhar seu dinheiro (como é meu caso), mas aos poucos tenho aprendido a valorizar meu trabalho, meu ganha-pão. E esse tipo de desabafo é uma maneira de chegar à valorização efetiva de nosso trabalho.

Por isso, quando você ler seu próximo livro de autor estrangeiro, dê uma olhadinha no nome do tradutor e dê um sorriso para ele. Saiba que para você ter aquela obra nas mãos, aquele cara deu um duro danado... 

ATUALIZAÇÃO: A Revista Bravo também não cita os tradutores na seção de livros, apenas na parte de resenha. Só por que o espaço é pequenininho? Hum...

(Texto publicado em 2008 no meu outro blogue, Vermelho Carne. Outro dia falo sobre traduções automáticas também.)

Tradução?


(A torre de Babel, de Pieter Brueghel, o Velho, 1563)

As pessoas em geral não conhecem o ofício da tradução, pois para olhos leigos não é uma coisa muito fácil de se definir, apesar de todos usufruírem de nosso trabalho em seu dia-a-dia. Ontem tive uma prova disso quando conversei com um rapaz do curso de inglês que faço, enumerando para ele alguns dos diversos tipos de tradução existentes, comentando sobre público alvo e constatando que não temos uma regulamentação nem um órgão de representação forte como de outras profissões. Ele me olhava com atenção de aluno, interessado numa questão para muitos nebulosa, que é a tradução como profissão.
"Vive-se disso?" lia em seus olhos e quase respondi ao sugestionado pelo olhar com "sim, até que muito bem por sinal".
Em geral, as pessoas imaginam que nossa profissão se resume à tradução de literatura e o mercado diz exatamente o contrário: é pequena a parcela de tradutores que se aventuram na literatura e na tradução editorial. A massa tradutória se concentra nas traduções mais técnicas, das mais diversas áreas: jurídica,  finanças, marketing, engenharias, ciências, tecnologia da informação e por aí vai.
Também não sabem o que fazemos quando ficamos horas grudados na frente de uma tela, coçando a cabeça e resmungando palavras ininteligíveis em outro idioma: é um trabalho extenuante, que costuma exigir imensa  capacidade intelectual. Ao mesmo tempo, é extremamente prazeroso chegar ao final daquele parágrafo intrincado com a certeza de que o recado foi dado. Nem quando lemos um documento que logo mais teremos que ler novamente para traduzir: quando temos tempo, ler o que se vai traduzir antes para anotar as dificuldades, mapear o terreno quanto a expressões idiomáticas e outras idiossincrasias linguísticas e se familiarizar com a linguagem e o direcionamento a um determinado público são ações que facilitam o trabalho posterior de tradução. Infelizmente, não é sempre que temos esse precioso tempo disponível (e quando o temos, em geral, encaixamos mais uma traduçãozinha para relaxar).
Como toda profissão, precisa da paixão sempre acesa, um amor imenso pelos idiomas de trabalho, um carinho especial com cada texto e uma amizade sempre respeitosa com o cliente, mesmo que ele não saiba que o consideramos um grande amigo. Há muito mais o que falar sobre a arte e essa será a missão deste blogue: falar sobre tradução e tudo que envolve esse ofício-arte

Padrinhos e madrinhas


Entende-se por mestre aquela pessoa que influencia de maneira decisiva a vida de outra, seja profissional ou pessoalmente. Quando encontramos um mestre, às vezes, não imaginamos que o seja ou não damos o valor que ele tem até que algo acontece e começamos a admirá-lo e até mesmo segui-lo, copiando seus passos, às vezes até os errados, aprendendo ou não com esses acertos e erros.
Durante minha vida tradutória tive padrinhos e madrinhas, como chamo as pessoas que muito ajudaram com sua generosidade intrínseca ou seu trabalho incansável em defesa do profissional de tradução ou da qualidade das traduções. Não vou nomeá-las, pois posso esquecer de alguma delas e não iria me perdoar por isso, mesmo os mestres "negativos", ou seja, aqueles que ensinam muito com atos que não nos favorecem de chofre ou não nos favorecem nunca (esses, infelizmente, são os mais comuns).
Tive padrinhos das artes tradutórias em diversos níveis: no vocabulário e na sua escolha minuciosa, na tecnologia e na modernização da tradução, em outros idiomas nos quais me aventurei e até mesmo aqueles que, ao corrigir meu trabalho, trocavam seis por meia dúzia para que eu sempre estivesse alerta quanto às minhas escolhas. Padrinhos no idioma português e na escrita. No estilo e elegância. Na técnica apurada e na reciclagem de meus conhecimentos. Na consciência de abominar traduções plagiadas e vituperadas. Isso me tornou um profissional mais atento e curioso, aspectos essenciais a qualquer tradutor (quase tão importante quanto o domínio dos idioma de chegada e do idioma de partida). 
Essa é minha pequena homenagem aos meus queridos padrinhos e madrinhas tradutórios, a quem devo essa caminhada de pouco mais de dez anos.

A tarefa


O título deste blogue foi inspirado no texto antológico do alemão Walter Benjamin (1892-1940),  Die Aufgabe des Übersetzers (A tarefa do tradutor), no qual ele postula que tradução é forma e, por isso, se há a possibilidade de trans-formar, de trans-pôr o texto na língua de chegada com a arte da língua de partida, a tarefa do tradutor se torna possível.

Mais que a transposição de elementos estanques de um idioma para outro, a tradução é a arte de transmutar significados estranhos a um público naqueles compreensíveis aos receptores de um determinado idioma, fazendo com que a cultura se dissemine e se faça, conforme a imagem mais clichê sobre nosso ofício, a ponte necessária entre dois povos.

Se a tradução tem tamanha importância, por que os tradutores não são respeitados (ou quiçá conhecidos) por sua árdua missão? Por que estivemos em certa medida sempre à sombra de um texto original, de um véu que cobria nossa identidade e nos deixava à margem, sem louros ou glórias. Não que queiramos tantos confetes, mas ao menos precisamos ser respeitados por nossa tarefa social, remunerados de acordo e nunca vilipendiados por uma diversidade de contrariedades que apenas quem traduz conhece a fundo. Por isso, a tarefa hoje está além de tornar possível a transformação do texto. Precisamos transformar a imagem do tradittori (traidor) e caminhar para sermos cada vez mais vistos como profissionais competentes e desejosos de ser essa ponte para o mundo.

Aqui você encontra um texto da Universidade Federal de Minas Gerais sobre o texto de Benjamin, junto com o original em alemão e a tradução de Fernando Camacho.